sexta-feira, 19 de outubro de 2007

..:: palavras que nos salvam ::.. Rosa Lobato de Faria # 2

Veio ter comigo.
Viste, não viste? Então agora tens que experimentar.
Não, não. Dá fraqueza nos pulmões e até cegueira e até nascem pêlos na palma da mão.
Ele virou as palmas claras para mim, exibindo-as como uma evidência. Vá, experimenta. Eu ensino-te. Despe-te.
Foi ele que fez. Eu não despreguei os olhos dos seus olhos negros, a fingir que aquilo ali em baixo não me pertencia. E de repente aconteceu. A descoberta tomou conta de mim com tal violência que pensei que ia morrer.
Depois fomos os dois ao banho. A charca (que hoje está seca) tinha água que dava ao Tinito pela cintura, a mim pelo pescoço. Brincámos como dois miúdos que éramos, o Tinito ia fazer dezoito anos, eu treze, e de repente senti-me enjoado, maldisposto, com uma urgência enorme de voltar para casa, para o meu quarto, para a minha cama, para a minha cortina de renda.

Rosa Lobato de Faria » A Alma Trocada (Porto: Asa) » 2007 » p. 18

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