quarta-feira, 22 de agosto de 2007

..:: o casamento dos outros ::..

«Casamento é um relacionamento a dois, no qual uma das pessoas está sempre certa e a outra é o marido.»
Parto deste belo adágio e do repto da minha querida Monga: há casamentos mui diversos uns dos outros. Para todos os gostos. Olhando para a minha família tenho muitos exemplos. Chego sempre à conclusão que as mulheres suportam demasiado. Basta-me olhar para as minhas duas irmãs (os irmãos também merecem atenção, mas têm relações diferentes, pelo que agora não me referirei a eles). Uma faz tudo, a outra resmunga e manda o marido fazer. A que faz tudo enerva-me porque acaba por se tornar na escrava lá de casa. Trabalha imenso, anda cansada e o dito cujo marido não ajuda. Como não suporto isso, cada vez a visito menos. A outra, a minha segunda mãe como eu digo, tem pêlo na venta, é óptima para ordenar e põe o marido a trabalhar. Não podia aprovar mais.
Sempre que sei que uma amiga vai casar, dou-lhe uma injecção: há que pôr o gajo a trabalhar, desde o primeiro dia. Vem tudo do berço: as mães transformam as filhas em fadas do lar e os meninos descansam porque não podem executar tarefas domésticas que os efeminizam. Coitadinhos. A minha mãe não foi excepção, mas como mulher de tomates percebe muito bem as diferenças entre as duas filhas e os respectivos. Fica furiosa com o calão, mas não consegue meter a colher.
Além da divisão de tarefas, há a violência verbal ou física. Não sei qual é pior. Há quem suporte tudo: insultos, cornos, agressões, ausências, pontapés, porque a dependência financeira ou afectiva é total, ou porque simplesmente não conseguem cortar o mal pela raiz. Os meus pais às vezes discutiam, mas nada de grave, que não passasse depressa. O meu pai sabia que, se alguma vez levantasse a mão, a minha mãe também levantaria a dela, que não era menos pesada. Nunca perderam o respeito ou a confiança. Há gente que parece nunca desenvolver esses dois pilares básicos de uma relação (a fidelidade não é para mim um valor básico, ok). Tenho amigas, ou conheço amigas de amigas, que passaram por isso: só lhes digo: mais vale sozinha que num inferno diário. E temos uma vizinha que às vezes é desancada pelo marido. Chamamos a PSP, mas parece que nada resolve.
Os sogros. Pergunta retórica: os sogros também fazem parte do casamento? Quando são normais, tudo bem, mas e quando a loucura abunda? A bem da sanidade mental, o melhor é o afastamento (acho eu).
Consequências do casamento: antes de mais, o divórcio. Depois, os que se mantêm: uns engordam (e são a alegria das famílias), outros emagrecem (por culpa da mulher, claro); uns revelam a besta que havia lá dentro; outros tornam-se dependentes; outros ainda, felizmente, evoluem. Há os que continuam a casar por conveniência, o que me parece ser pouco conveniente e acabam por oferecer surpresas desagraváveis. Por exemplo, quando ela descobre que ele gosta tanto de pau quanto ela, ou vice-versa. Custa-me aceitar os enrustidos, mas há-os, apesar do status quo tem vindo a evoluir significativamente. E não deixo de pensar em mim (olha o narcisismo, mas paciência), que vim de trás do sol posto e cá estou feliz com o meu homem. Eu tinha tudo para correr mal. Talvez tenha ajudado o facto de ter estudado e de ter uma personalidade forte. Mas mesmo para estudar não foi fácil: comecei a trabalhar aos 15 anos para ajudar a pagar os estudos (desde o secundário, portanto). Depois de tanto sacrifício, casar só com quem eu amasse, nunca por conveniência nem para agradar aos outros. Como casar ainda não nos é permitido por aqui, vamos aguentando. A esperança ainda não morreu.
Outra consequência é o afastamento dos amigos porque a disponibilidade diminui brutalmente, sobretudo quando surgem as crianças. Alguns cortam relações com o mundo que deixa de existir e ninguém fica a perceber porquê. Pessoalmente, gosto de ver as pessoas com alguma independência, sinal de que o mundo pessoal não se obnubilou. Em qualquer relação, mesmo com o Zé, preciso de continuar com o meu mundo, caso contrário sentir-me-ia abafado, apagar-me-ia. Fico radiante por, na sua maioria, os meus amigos viverem também assim, sem ameias.

Sem comentários:

Enviar um comentário

»» responderemos quando tivermos tempo
[se tivermos tempo] »» se os
comentários de algumas entradas estiverem bloqueados é porque não estamos cá, não há tempo para olhar para o lado, ou essas entradas não têm nada para comentar.

»»
obrigado pela visita!